MARINA
GAMA - Folha de São Paulo - 11/07/2012 - São Paulo, SP
A quadrilha que fraudou o Exame da OAB (Ordem dos Advogados do
Brasil) em 2009 cobrava até R$ 50 mil para disponibilizar o gabarito de cada
prova aos candidatos, de acordo com o delegado da Polícia Federal Victor
Ferreira.
Ele foi o responsável pela investigação que identificou 152
candidatos que compraram as respostas e que resultou na prisão de dez pessoas
suspeitas de vendê-las, além de outras três que colaboravam com o grupo.
Ainda segundo o delegado, a organização criminosa atuava também em
outros concursos públicos, como da PF, da Abin (Agência Brasileira de
Inteligência) e da Receita. Nesses casos, o valor cobrado pelo acesso às
respostas podia ser ainda mais alto do que no caso da prova da OAB, chegando a
R$ 305 mil.
Além de dez pessoas que compunham o grupo, também foram presos um
candidato aprovado no concurso de agente federal de 2004. De acordo com o
Ferreira, ele auxiliava o pagamento dos candidatos fraudadores à quadrilha.
Estavam envolvidos no esquema ainda dois policiais rodoviários federais.
Ferreira contou que, no caso dos policiais, eles retiravam um
caderno de questões dos malotes lacrados e fotografavam as páginas. Eles tinham
acesso ao material porque o Cespe, ligado à Universidade de Brasília,
organizador do exame, armazenava as provas nas dependências da Polícia
Rodoviária Federal em São Paulo dois dias antes de sua aplicação.
Com o material nas mãos, os policiais vendiam as imagens à
quadrilha por cerca de R$ 100 mil. Na posse das imagens, os bandidos contratavam
professores para responder as questões e preparar os gabaritos --segundo
Ferreira, foram identificados ao menos oito professores--, que custavam R$ 50
mil.
Para chegar até os candidatos fraudadores, os investigadores
trabalharam com um sistema de informática que cruza informações em busca de
padrões nos gabaritos de todos os candidatos dos concursos e exames. A partir
disso, um trabalho de estatística era feito para analisar a chances de
coincidência das respostas das questões.
Com a lista dos suspeitos, a polícia passou a investigá-los e
chegou até a quadrilha. Os 152 candidatos que tiveram acesso às respostas antes
dos exames eram de São Paulo e Santos (litoral paulista). Todos eles serão
indiciados sob suspeita de fraude à concorrência e receptação.
Com o mesmo sistema, a polícia disse também ter identificado, por
exemplo, que 1.076 candidatos, em diversos locais do país, copiaram as respostas
de candidatos sentados ao lado.
De acordo com Ferreira, o inquérito segue em segredo na Justiça,
mas a OAB terá acesso a ele para que decida quais providências adotar em relação
aos candidatos que colaram, e, eventualmente aprovados, se tornaram
advogados.
Em nota, o órgão informou que vai abrir um processo
ético-disciplinar contra os candidatos identificados pela PF.
A OAB diz que o processo visa estabelecer `o grau de envolvimento
e participação de cada um dos suspeitos, que estarão sujeitos, considerada a
natureza da infração cometida, às sanções previstas no Estatuto da Advocacia e
da OAB`. Essas sanções variam de advertência à exclusão dos quadros da
Ordem.
A entidade também informou que, na época das fraudes, o exame não
era unificado. Atualmente a mesma prova aplicada em todo o território nacional,
e está a cargo da Fundação Getúlio Vargas.
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